CULTURAS HÍBRIDAS

03 janeiro 2006

A ESTRANHA ORIGEM DE NOSSA COMIDA EXÓTICA

Conta-nos uma lenda - chamada da primeira água - que Jacy (Lua) e Iassytatassú (Estrela d’Alva), combinaram um dia visitar Ibiapité (Centro da Terra). Em u’a madrugada deixaram Ibacapuranga (Céu Bonito) e desceram para a terra. Descansaram no enorme disco da Iupê-jaçanã (Vitória-Régia) e se puseram a caminho para o centro da terra. Quando as duas se preparavam para descer o Ibibira (abismo), Caninana Tyba mordeu a alva face de Jacy que, sentindo a dor, derramou copiosas lágrimas amargas sobre uma extensa plantação de mandioca. Depois disso, a face de Jacy nunca mais foi a mesma pois as mordidas da caninana, marcaram-na para sempre. Das lágrimas de Jacy surgiu o tycupy (tucupi).

O tucupi é ácido cianidrico. Todavia, as nossas avoengas descobriram que poderiam vencer esse veneno deixando-o exposto ao sol por três ou quatro dias ou, então, depois de "descansado" (tempo em que a tapioca sedimenta-se no fundo do vasilhame), é fervido, ficando o tucupi pronto para o consumo humano. Dessa massa (a tapioca) e da pimenta murupi surgiu a primeira iguaria exótica, nascida da sapiência das nossas avós amerabas. Os autóctones desconheciam o sal. E o arubé, apesar de ardente, era o que dava um gosto às comidas ensossas, além do que a sua causticidade as tornava mais saborosas. De exotismo em exotismo, surgiu a tiquara, que chegou até nós como o nome de chibé. A tiquara, ou chibé, nada mais é que a farinha de mandioca, com a água fresca dos igarapés, bebida em uma cuia pitinga.

Houve na história do Pará um instante onde o humílimo chibé foi reconhecido como alimento. Ia acesa a Revolução Paraense, infamantemente conhecida por Cabanagem. As tropas legais reclamavam por alimentos. O marechal Manuel Jorge, irado com os protestos, perguntou aos reclamantes:

- E os sediciosos o que é que comem?

Os perguntados responderam:

- Chibé!...

- Então, comam-no também, respondeu o marechal mal humorado.

OS ÍNDIOS FOGEM

Quando da descoberta do Brasil viviam na faixa larga da mata atlântica vinte e cinco milhões de ameríndios. A matança foi impiedosa e os autóctones tornaram-se nômades. Guiacurú, Temimino, Carijó, Aymoré, Tamoio puseram-se a andar, perseguidos implacavelmente pelo civilizado. Aí as nossas avoengas mostraram para o que vieram. Responsáveis pela manutenção dos alimentos para os seus filhos, traziam em grandes cabaças o tucupi, o jambu, a carne de caça moqueada ou peixe, prática que elas haviam descoberto muito antes. Era deliciosa a carne de anta moqueada com o tucupi ou então a folha da maniva, mascada pelas mulheres da taba em tempos de paz. Mascavam-na à beira de um igarapé corrente, para que a água lavasse a maniva desse modo triturada. Se a carne moqueada no tucupi conservava-se por oito dias, a maniva cozida com carne de caça durava quinze dias. Esse uso e costume deu origem a dois pratos exóticos da Amazônia - o pato no tucupi e a maniçoba - e ainda uma outra bebida, agora já com requintes de sabedoria das mulheres amazônidas, o tacacá. Os últimos bolsões dos amerindios foi o Sul da Bahia e eles encetaram a grande marcha para o vale amazônico na metade do Século XVI. Nessa caminhada foram distribando-se. Belém ainda não havia sido fundada.

Fonte:www.revistanossopara.com.br/

4 Comments:

  • At 1/04/2006, Anonymous Anônimo said…

    adorei!

     
  • At 1/04/2006, Blogger SV said…

    Estonteantemente lindo! Gostei demais, aprendi muito e vou passar adiante!

     
  • At 1/05/2006, Blogger Santa said…

    Obrigada por colocar a Santa em seus links! Estou impressionada com a força das iomagens e dos textos.

    Bjs

     
  • At 5/23/2006, Anonymous Anônimo said…

    nosssa adorei saber mais e mais sobre nosssa cultura cheia de encanto e mistério,quero saber tudo sobre a culinária paraense,pois estou fazendo meu TAO sobre esse assunto e aqui em Santarém onde moro não tem nada

     

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